Letras de carvão

Autora: Irene Vasco - Editora: Pulo do Gato

No 1º ano do Ensino Fundamental, as crianças vivem a intensidade de um tempo inaugural: o da descoberta do mundo por meio das palavras. Sensíveis a esse momento de encantamento e desafio, foram convidadas a mergulhar na leitura de Letras de Carvão, livro que nos fala, com delicadeza, sobre o desejo de aprender a ler e escrever como forma de fazer parte do mundo; um mundo tecido por letras, histórias e significados.

Acompanhando a trajetória de Gina, que escreve com carvão no chão de terra batida, os pequenos leitores se reconheceram em suas perguntas, sonhos e conquistas. Refletiram, com escuta atenta e olhar curioso, sobre o poder transformador da linguagem, compreendendo que as palavras são pontes: unem pessoas, guardam memórias e ampliam horizontes.

Entre traços, letras e conversas, esse encontro literário se tornou também um gesto de partilha e afirmação: aprender a ler e escrever é um direito, um desejo e uma porta aberta para o mundo.

Em Cantigas para brincar, de Josca Ailine Baroukh e Lucila Silva de Almeida, as crianças cantaram e vivenciaram as cantigas tradicionais com coreografias e gestos, trabalhando ritmo e coordenação motora, fonética e rimas. Assim, aproximaram-se do patrimônio cultural brasileiro e foram despertadas para a curiosidade e para a valorização das raízes folclóricas, o que abriu as portas para as pesquisas que deram contexto à Festa Junina.

A leitura de Vamos dar a volta ao mundo? Conhecendo nosso planeta com a família Klink, de Marina Klink foi uma verdadeira expedição literária, uma jornada de descobertas a respeito dos diversos biomas do planeta. As crianças ampliaram seu conhecimento geográfico e ambiental,  aventuraram-se por diferentes ecossistemas como florestas, desertos, geleiras e oceanos e puderam refletir sobre a importância da preservação da natureza. Assim como toda boa aventura, esta também os colocou diante de novas  sensações e gerou sentimentos como empolgação, receio, frio na barriga e muito mais…

Algumas histórias de Meu primeiro livro de contos de fadas, de Mary Hoffman já são conhecidas das crianças, enquanto outras estão sendo deliciosas novidades - o que vem enriquecendo ainda mais o repertório cultural e literário da turma. Viajando através dos contos de encantamento, as crianças estão aprendendo a identificar e expressar suas próprias emoções, além de compreender melhor os sentimentos dos outros. Ótimas discussões e soluções criativas para problemas que se apresentam nos enredos têm surgido ao longo das leituras.

Um fascinante giro pelo mundo através de contos tradicionais do livro Lá vem história, de Heloisa Prieto, recontados com sensibilidade e riqueza cultural, vem acontecendo. A leitura tem gerado um olhar mais curioso e respeitoso para as diferenças culturais, a compreensão de que, embora sejamos diversos, compartilhamos sonhos e emoções similares e o prazer de descobrir que cada cultura tem tesouros narrativos únicos.

Uma história que gerou belas conversas sobre os costumes de comunicação no passado está em Carta errante, avó atrapalhada, menina aniversariante, de Mirna Pinsky. A leitura provocou muita curiosidade e gerou a construção de uma linha do tempo das tecnologias da comunicação, ressaltando a ideia de que cada geração tem sabedoria e experiências valiosas para compartilhar.

O encontro com a poesia está se dando através da seleção maravilhosa feita por Ruth Rocha e sua filha Mariana em Poemas que escolhi para crianças. Ao mergulharem num universo de rimas, ritmos e imaginação, o encanto tomou conta da turma. Tem sido uma viagem no tempo através da poesia de autores desde o século XIX, como Olavo Bilac, até contemporâneos como Adélia Prado.

O menino do dedo verde, de Maurice Druon, livro encantador, que levou a importantes reflexões sobre nosso poder de transformação no mundo. Uma grande descoberta foi a de que todos temos um "dedo verde" - um poder único de fazer o bem. O que você transformaria com seu dedo verde? Cada criança está refletindo sobre o poder de transformação de Tistu, o grande protagonista e buscando em si seu poder especial. Qual transformação eu posso realizar à minha volta? Qual é o meu “dedo verde”?

Sementes de cabanas encantadas, de Philippe Lechermeier é um livro que tem acompanhado as crianças desde o início do ano e seguirá viagem até o final. Sim, uma viagem, assim como a do protagonista, o explorador Afonso Cagibi que, em seu diário de viagem tem colocado as crianças diante de metáforas que precisam ser decifradas sobre construção, transformação e a beleza de explorar novos significados. As ilustrações misteriosas e belíssimas, têm estimulado a leitura que vai além das palavras, e os meninos e meninas têm exercitado a interpretação e a sensibilidade e pesquisado referências que os permitam ler as entrelinhas dos textos

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Uma leitura que provocou grandes discussões sobre a importância de preservar e valorizar as culturas antigas foi a do livro Diário de Pila na Grécia, de Flávia Lins e Silva. Em meio a aventuras pelos cenários da Grécia e a riqueza dos mitos gregos, a história reforçou ainda mais esta ideia que, aliás, já vinha sendo construída com os meninos e meninas. Como? Estiveram imersos em pesquisas sobre os povos formadores do Brasil, como por exemplo, através da aproximação deles com a tradição ancestral do Maracatu, explorado para a construção da Festa Junina. Concluíram que, olhar para o passado e para as tradições de diferentes povos enriquecem a visão de mundo. E veio um desafio! Os estudantes escreveram os seus próprios “mitos gregos”, contextualizados no presente. Um livro coletivo com tais mitos, está em produção!.

O Mágico de Oz

Autor: L. Frank Baum - Ilustrada belamente por Arnaldo Baptista, esta obra clássica da literatura infantil, O Mágico de Oz, é apresentada em nova edição pela Antofágica, com tradução de Davi Boaventura. A história acompanha Dorothy que é levada por um ciclone para a Terra de Oz. Para voltar para casa, ela segue até o Mágico de Oz com três novos amigos: o Espantalho, o Homem de Lata e o Leão. Juntos, eles vivem grandes aventuras na busca pela realização de seus sonhos.

As crianças do 1º ano sentiram-se envolvidas na leitura de seu primeiro livro capitulado. Ao acompanharem a leitura compartilhada de cada capítulo, uma nova expectativa era inaugurada, com a curiosidade sobre a continuação da história. Os primeiros marcadores de página começaram a surgir e a organização lógica do pensamento foi sendo exercitada a cada leitura. Foi fácil embarcar no enredo que de forma mágica trouxe aprendizagens sobre persistência, respeito às diferenças e o valor da amizade, habilidades tão importantes que ainda estão sendo desenvolvidas pelas crianças.

A leitura de O fantástico mistério de feiurinha, de Pedro Bandeira foi um convite aos estudantes para revisitar os contos clássicos a partir de uma perspectiva divertida, curiosa e cheia de surpresas. Puderam reconhecer os personagens dos contos de fadas — dos quais haviam se aproximado bastante na leitura de Meu primeiro livro de contos de fadas, de Mary Hoffman, no primeiro semestre — e observar como o autor brincou com as características tradicionais das personagens e do enredo. A intertextualidade proporcionou um importante exercício de imaginação e flexibilidade, afinal, o livro ampliou o olhar trazendo outras possibilidades para as narrativas tradicionais. Um grande aprendizado que ficou foi que as histórias podem ser reinventadas e que a literatura é também um espaço de criação.

Em Os bichos que tive: (memórias zoológicas ), de Sylvia Orthof, os estudantes leram relatos bem-humorados sobre os animais que fizeram parte da infância da autora, percebendo como as memórias pessoais podem se transformar em narrativas literárias. Ao longo dos episódios, tiveram contato com diferentes elementos da estrutura narrativa, como personagens, ambientes e eventos. O estilo da autora foi explorado para que as crianças reconhecessem recursos expressivos, como exageros, comparações e imagens poéticas. A leitura das ilustrações também contribuiu para a construção de sentidos, permitindo que realizassem uma interpretação integrada entre palavra e imagem. Além disso, a obra despertou nas crianças a percepção de que suas próprias lembranças e experiências podem se tornar histórias, fortalecendo a construção da identidade e da memória afetiva.

A leitura de Os invisíveis, de Tino Freitas e Odilon Moraes, ajudou os estudantes a ampliar o olhar para o outro, a olhar com mais atenção para as pessoas e situações que, muitas vezes, passam despercebidas no nosso dia a dia. A história, junto das ilustrações delicadas, ensina que todos têm uma história, sentimentos e necessidades — e que pequenas atitudes de cuidado podem tornar alguém “visível” novamente. Por meio da leitura das imagens, os estudantes puderam interpretar sentidos além do texto, fazer inferências a partir das imagens, perceber como cores, traços e vazios comunicam emoções e aprender que texto e imagem dialogam e constroem significados juntos.

A leitura de Lobinho na escola de enganação, de Ian Whybrow, uma narrativa marcada pelo humor, pela fantasia e pela quebra de expectativas, possibilitou aos estudantes ampliar suas habilidades de compreensão e apreciação literária. As crianças puderam refletir sobre identidade, diferenças e autenticidade, já que o protagonista não se encaixa no modelo de “criatura assustadora” esperado pelo contexto apresentado na história. Durante a leitura, analisaram as características das personagens, observando como o comportamento do Lobinho contrasta com o de seus colegas e como suas intenções e sentimentos se revelam ao longo dos episódios. O texto, aliado às ilustrações, permitiu que os estudantes explorassem informações adicionais fornecidas pelas imagens, reconhecendo como elas ampliam sentidos e reforçam emoções. Por fim, a obra promoveu discussões sobre convivência, respeito às diferenças e coragem para ser quem se é, mesmo diante das expectativas alheias.

Adentrar no universo de Uma floresta de histórias: Contos de árvores mágicas do mundo todo, de Rina Singh e ilustrações de Helen Cann permitiu que os estudantes descobrissem como as florestas do mundo guardam culturas, memórias e modos de viver muito diversos. A cada página, as crianças conheceram narrativas tradicionais de diferentes povos e percebem como cada história revela uma relação única com a natureza. Foi então que enfrentaram o maior desafio, produzir um reconto de cada uma das narrativas, utilizando o cordel, Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro como meio. O resultado foi incrível!

A leitura de Magrilim e Jezebel em: O rei do abecê, de Fábio Sombra, proporcionou aos estudantes uma experiência literária marcada pelo humor, pela fantasia e pelo uso criativo da linguagem. Ao acompanhar a história, eles observaram os elementos que compõem a estrutura narrativa — personagens, ambientes, conflitos e desfechos — compreendendo como Magrilim e Jezebel conduzem a ação e resolvem os desafios que surgem ao longo da trama. A obra, inspirada em ritmos da tradição oral, rimas e brincadeiras linguísticas presentes na literatura de cordel, ampliou o repertório cultural das crianças e favoreceu a apreciação estética do texto. Por fim, as atividades orais e escritas desenvolvidas a partir da leitura possibilitaram que os estudantes experimentassem diferentes formas de expressão, criando seus próprios jogos de palavras e produzindo cordéis.

Dois livros que acompanharam os estudantes desde meados do primeiro semestre foram Viagem pelo Brasil em 52 histórias, de Silvana Salerno, e Crônicas de São Paulo: um olhar indígena, de Daniel Munduruku. Eles ofereceram às crianças a oportunidade de conhecer diferentes modos de viver e de contar histórias no Brasil. Munduruku apresentou a vida na cidade, o senso de pertencimento e as pequenas descobertas do cotidiano e, por meio de seu olhar sensível, levou os estudantes a perceber que a literatura também nasce da experiência e da observação.

Já Viagem pelo Brasil em 52 histórias ampliou o repertório cultural por meio de narrativas das diversas regiões do país, revelando tradições, paisagens e imaginários que tornam o Brasil tão diverso. As duas leituras, juntas, permitiram que os estudantes comparassem estilos, vozes e perspectivas, fortalecendo a compreensão de que cada história carrega um jeito único de ver o mundo.

Por sua vez, Quem matou o Saci?, de Alexandre de Castro, foi um mergulho em uma investigação cheia de humor e mistério, recheado de folclore brasileiro. Ao acompanhar a história, os estudantes aprofundaram-se nos aspectos culturais por meio dos personagens dos mitos e lendas brasileiras, aprenderam a levantar hipóteses, buscar pistas e relacionar informações, apoiando o desenvolvimento de uma leitura mais crítica e investigativa. Não faltou curiosidade, apostas e muita diversão durante a jornada de busca de solução para o crime!